terça-feira, maio 09, 2006

A Cidade esquecida nas entrelinhas...

Na discussão da cidade contemporânea portuguesa é dado, nos dias que correm, pouco espaço às pessoas.

Discute-se o trânsito, a atracção de investimentos, o empreendedorismo, a reabilitação urbana, os planos directores, de urbanização e de pormenor, as infra-estruturas, os projectos imobiliários, os espaços verdes, o´"lobby do betão", etc. etc. etc.

O problema de tratar a Cidade como um cenário de fundo para debates diversos (que apaixonam alguns e passam completamente ao lado de muitos) ou como palco (sobre o qual dialogam, mais ou menos violentamente, com maior ou menor transparência, interesses poucas vezes coincidentes) é que, nesse contexto, ao Cidadão é no fundo reservado o papel... de espectador.

E, não por acaso, quando olhamos para as oportunidades de participação criadas por quem gere a cidade, verificamos que a fasquia está muito alta para o cidadão comum. Quer falar de "políticas urbanas"? Tem "preocupações estratégicas"? Que direito tem você de não querer estas quatro faixas de rodagem à porta de sua casa?

Não admira que as consultas públicas fiquem (quase) desertas e que, perante propostas "blindadas" por compromissos já assumidos e por pareceres técnicos já elaborados, não reste senão a via do protesto. Um protesto, diga-se, logo catalogado como NIMBY. E como é fácil fazer as preocupações concretas das pessoas parecerem mesquinhas quando comparadas com o prestígio dos pareceres ou o "bem" da Cidade...

O propósito deste modesto blog é, ele também, modesto - e estritamente pessoal. Falar da Cidade das Pessoas.