sábado, abril 02, 2011
A sessão de consulta pública "As Ruas também são Nossas" foi realizada para o Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa.
(o relatório pode ser descarregado aqui )
Participaram nesta sessão quase 200 munícipes com idade igual ou superior a 55 anos, a quem pedimos que partilhassem a sua experiência pessoal no uso de passeios, passadeiras e transportes públicos.
Os resultados dão-nos uma noção clara dos acidentes sofridos, e do medo e incómodo sentidos com frequência pelos participantes. Constata-se que, no seu estado actual, a rede de percursos pedonais não proporciona as devidas condições de segurança e conforto a grande parte dos lisboetas mais idosos.
Como é óbvio, este desajuste não se verifica apenas em Lisboa. Parece por isso importante sublinhar dois pontos.
Em primeiro lugar, que com o envelhecimento demográfico, este problema irá afectar um número cada vez maior de pessoas, e uma percentagem cada vez maior da população, ameaçando a sustentabilidade económica e social de muitas cidades portuguesas.
Em segundo lugar, que o relatório demonstra de uma vez por todas (se ainda preciso fosse) que os problemas de acessibilidade não afectam apenas os utilizadores de cadeiras de rodas nem as pessoas com deficiência visual.
Esta sessão de consulta é mais um passo na elaboração do Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa, através do qual a Câmara Municipal de Lisboa está a definir medidas para dar resposta a muitas das questões chave apontadas pelos participantes, nalguns casos em articulação com outras entidades.
Feedback bem vindo ( nucleo.acessibilidade@cm-lisboa.pt ).
sexta-feira, junho 05, 2009
Caíram calçadas
Hoje de manhã falei para uma plateia de pouco mais de uma centena de idosos (arredondemos para 100).
O tema era a acessibilidade.
Perguntei quem é que já tinha sentido que os semáforos não lhe davam tempo suficiente para atravessar a rua, e quase toda a sala levantou o braço.
Perguntei depois quem é que já tinha sentido desconforto ou receio de cair ao andar na calçada. E quase toda a sala levantou, novamente, o braço.
Houve então uma senhora que, sentada na primeira fila, protestou comigo: "devia era perguntar quem é que já caiu!"
E perguntei.
Para verificar que 38 pessoas já tinham sofrido quedas devido à calçada: partiram ou torceram mãos, pulsos, pés, pernas. Vários tiveram de ser hospitalizados.
Na realidade, não podemos ficar surpreendidos: os estudos revelam que mais de um quarto dos acidentes domésticos e de lazer sofridos pelos idosos são provocados por pavimentos e equipamentos de rua (cf. resultados do Projecto Adelia, publicados pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge).
E ainda há quem diga que a calçada é que é boa, é que é típica, é que é bonita?
Para aqueles idosos não é boa de certeza.
segunda-feira, maio 11, 2009
As Quotas da Ordem
Com a devida autorização do autor (que refere ser esta uma questão pública, e tem razão), publico carta enviada pelo João Afonso ao Presidente da Ordem dos Arquitectos, a propósito do novo Regulamento de Quotas.
Publico-a porque concordo inteiramente com o João [os sublinhados são meus]
«Exmo. Sr.Presidente do Conselho Directivo Nacional da
Ordem dos Arquitectos
Caro João Rodeia,
Escrevo no fim do prazo da consulta aos membros relativa à proposta de alteração ao Regulamento de Quotas da Ordem dos Arquitectos, porque não poderia deixar de o fazer, porque não consigo compreender a sua oportunidade, porque não concordo com o proposto, porque receio para onde nos pode levar.
Será este o problema da nossa associação? Como cobrar as quotas aos membros e como os penalizar caso não o façam?
O regulamento actualmente em vigor – proposto pela anterior direcção, à qual pertencia – pretendeu clarificar algumas questões práticas prevalecentes do tempo da Associação e criar condições que facilitassem a auto-suspensão caso os arquitectos assim o desejassem. O problema não era cobrar as quotas em atraso, mas sim evitar os imensos passivos incobráveis que resultam em bloqueios inultrapassáveis , quer pelo membro quer pelas direcções da OA – até queríamos ir mais longe, mas o estatuto e lei geral não o permitiam; recordas-te?
Agora pretende-se cobrar, penalizar e até julgar. Ameaça-se com juros e cobrança coerciva (para além do estatutariamente previsto processo disciplinar, da qual poderá ocorrer uma pena de advertência ou censura) cada vez que os membros se atrasem num trimestre de pagamento.
Mas quem é que, em toda a OA, não se atrasou pelo menos um trimestre no pagamento desde o mais alheado da vida associativa até ao presidente da OA? Querem transformar as direcções, e os serviços, em cobradores e instauradores de processos (porque será essa a sua obrigação)? Será que o valor de juros de um trimestre (se for 5%, equivale a menos de 60 cêntimos) justifica a conflitualidade que se irá criar?
Quanto ao pedido de suspensão, passa a ser obrigatório ter o pagamento das quotas em dia para este ser considerado, sendo que a sua aceitação é de critério desconhecido e ao “gosto” das direcções. Ou seja, por exemplo quem deixou de ter trabalho, ou não lhe pagam, e por isso deixou de ter condições de pagar as suas quotas só tem uma solução: deixar acumular a dívida e esperar ser “perseguido” (como nunca disciplinarmente pode ser suspenso a divida irá acumulando). Pouco a pouco, muitos se irão afastar e deixar a associação (permanecendo o litigio). Finalmente, o que sobrará da OA?
A prioridade actualmente não deveria ser a situação financeira da OA, mas sim qual o papel da organização em tempo de crise. O importante é sabermos quem somos, como vivemos, com que dificuldades muitos arquitectos se deparam e como é que a ordem se deve posicionar perante a situação. Temos de nos perguntar se queremos uma organização de todos os arquitectos, ou apenas daqueles que podem ou o conseguem? Se queremos esta organização ou outra qualquer?
A opção não pode passar pelo regulamento de quotas. A solução não passa pela cobrança das quotas, por isso não compreendo!
Um abraço,
Porto, 8 de Maio de 2009
João Afonso»
Publico-a porque concordo inteiramente com o João [os sublinhados são meus]
«Exmo. Sr.Presidente do Conselho Directivo Nacional da
Ordem dos Arquitectos
Caro João Rodeia,
Escrevo no fim do prazo da consulta aos membros relativa à proposta de alteração ao Regulamento de Quotas da Ordem dos Arquitectos, porque não poderia deixar de o fazer, porque não consigo compreender a sua oportunidade, porque não concordo com o proposto, porque receio para onde nos pode levar.
Será este o problema da nossa associação? Como cobrar as quotas aos membros e como os penalizar caso não o façam?
O regulamento actualmente em vigor – proposto pela anterior direcção, à qual pertencia – pretendeu clarificar algumas questões práticas prevalecentes do tempo da Associação e criar condições que facilitassem a auto-suspensão caso os arquitectos assim o desejassem. O problema não era cobrar as quotas em atraso, mas sim evitar os imensos passivos incobráveis que resultam em bloqueios inultrapassáveis , quer pelo membro quer pelas direcções da OA – até queríamos ir mais longe, mas o estatuto e lei geral não o permitiam; recordas-te?
Agora pretende-se cobrar, penalizar e até julgar. Ameaça-se com juros e cobrança coerciva (para além do estatutariamente previsto processo disciplinar, da qual poderá ocorrer uma pena de advertência ou censura) cada vez que os membros se atrasem num trimestre de pagamento.
Mas quem é que, em toda a OA, não se atrasou pelo menos um trimestre no pagamento desde o mais alheado da vida associativa até ao presidente da OA? Querem transformar as direcções, e os serviços, em cobradores e instauradores de processos (porque será essa a sua obrigação)? Será que o valor de juros de um trimestre (se for 5%, equivale a menos de 60 cêntimos) justifica a conflitualidade que se irá criar?
Quanto ao pedido de suspensão, passa a ser obrigatório ter o pagamento das quotas em dia para este ser considerado, sendo que a sua aceitação é de critério desconhecido e ao “gosto” das direcções. Ou seja, por exemplo quem deixou de ter trabalho, ou não lhe pagam, e por isso deixou de ter condições de pagar as suas quotas só tem uma solução: deixar acumular a dívida e esperar ser “perseguido” (como nunca disciplinarmente pode ser suspenso a divida irá acumulando). Pouco a pouco, muitos se irão afastar e deixar a associação (permanecendo o litigio). Finalmente, o que sobrará da OA?
A prioridade actualmente não deveria ser a situação financeira da OA, mas sim qual o papel da organização em tempo de crise. O importante é sabermos quem somos, como vivemos, com que dificuldades muitos arquitectos se deparam e como é que a ordem se deve posicionar perante a situação. Temos de nos perguntar se queremos uma organização de todos os arquitectos, ou apenas daqueles que podem ou o conseguem? Se queremos esta organização ou outra qualquer?
A opção não pode passar pelo regulamento de quotas. A solução não passa pela cobrança das quotas, por isso não compreendo!
Um abraço,
Porto, 8 de Maio de 2009
João Afonso»
quinta-feira, abril 02, 2009
portas e janelas
terça-feira, março 24, 2009
domingo, março 22, 2009
A praga calçada
Foto: Manuel João Ramos, no cidadanialx (data?...)
Em cada metro quadrado de calçada que instalam ou renovam, as câmaras municipais arranjam mais "lenha para se queimarem".
A calçada é o pavimento mais caro de manter, e nos dias que correm é, sem dúvida, o mais mal executado. Basta parar na rua e observar os actuais calceteiros, sem qualquer experiência, a cobrir num dia apenas uma superfície que os antigos artífices demoravam dias a decorar.
O estacionamento de automóveis sobre os passeios e as obras de subsolo encarregam-se de dar, depois, o "golpe de misericórdia" num pavimento que está geralmente mal nivelado, mal compactado, e exectutado com peças mal (pessimamente) emparelhadas.
Por isso é que depois as câmaras municipais nunca têm meios para assegurar a manutenção. E a calçada se transforma rapidamente na lástima que se vê por todo o lado.
Depois, devido às suas irregularidades, falta de manutenção e partes polidas pelo uso, a calçada é um pavimento que causa imensas quedas e um notório desconforto nos peões. E é dos pavimentos menos acessíveis para todos, especialmente idosos e pessoas com deficiência. Já para não falar do desconforto causado pelo elevado grau de reflectância (a superfície branca reflecte a luz solar).
E adivinhem lá, já agora, qual é o pavimento mais difícil de limpar...? Exacto, a calçada. Basta perguntar a qualquer almeida, que logo vos conta como é frustrante varrer e lavar, para no fim tudo parecer sujo na mesma.
Vale a pena notar que, tal como hoje é executada, com um traço (mistura) de cimento no areão (a camada onde as pedras assentam), a calçada, fica completamente impermeável. Já nem essa vantagem tem, portanto...
A calçada original, bem feita, era de facto um ex-libris da cidade de Lisboa. A calçada que hoje se faz é uma praga.
Há tantas soluções alternativas no mercado (e noutras cidades portuguesas) que só o hábito (e o preconceito?) é que pode explica estar insistência na calçada.