Voto C

Há largos meses atrás, o Manuel Vicente convidou-me a integrar a lista C. Aceitei.
Já tornei públicas as minhas ideias sobre a Ordem. Considero...
...que o apoio à prática deve ser a prioridade com reflexos no discurso, na organização e no orçamento da Ordem;
...que a formação contínua é um dever da Ordem e um direito dos seus membros, e que não pode continuar a ter lugar só em Lisboa, e a ser vista como fonte de lucro;
...que na disciplina a Ordem deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para proporcionar aos seus membros condições de trabalho para que estes cumpram com as suas obrigações, que não deve esperar pelas queixas, e sobretudo não calar os protestos só para não deixar de receber apoios do Estado. A Ordem tem uma fonte de receita segura – as quotas dos membros. Não tem desculpa para estar calada;
...que relativamente aos concursos a Ordem deve assumir, de uma vez por todas, que a igualdade de oportunidades no acesso à encomenda pública é um dever do Estado e um direito dos profissionais, e deve fazê-lo sem ambiguidades, doa a que estrelas doer;
...que a Ordem não pode assobiar para o lado no que toca a honorários, e que apesar das limitações impostas pela legislação europeia pode dar um importante contributo a dar;
...que nas actuais condições, os estagiários estão a ser forçados a cumprir um “serviço militar obrigatório” que não garante nada, e que só beneficia quem já está instalado e pode beneficiar do seu trabalho gratuito, e que mesmo não sendo clara, ainda, a solução, já é tempo de a Ordem reconhecer o problema;
...que a descentralização é um imperativo para a Ordem, e que essa descentralização deve ser o mais profunda possível, deve passar pela criação de novas secções regionais, e deve ser conduzida, principalmente, pelas delegações e núcleos já existentes.
Estas opiniões podem não coincidir totalmente com as do Manuel Vicente e da restante Lista C.
Isso não me preocupa – olho para as restantes listas, leio os folhetos, e vejo a mesma ambiguidade e conversa redonda que já vi noutras eleições.
Escolher é preciso
Precisamos de clarificação. Mas não é de clarificação relativamente a chapeladas eleitorais – essa, já a deu o Tribunal.
Precisamos de clarificação relativamente a prioridades.
Porque na hora da verdade sabemos que quem estiver na Ordem vai ter de escolher entre contratar técnicos para melhorar o apoio à prática… ou para fazer a Trienal.
Entre pagar as deslocações à Madeira e Açores de membros do Conselho de Disciplina, para audições, ou pagar as deslocações a Lisboa de estrelas, para conferências…. na Trienal.
Entre realizar acções de formação descentralizadas pelo País, a baixo custo de inscrição, ou montar exposições em Lisboa… para a Trienal.
Entre tomar posições públicas claras contra câmaras que não fazem concursos, violam PDM’s, perseguem arquitectos, ou fazer de conta que não se passa nada, para que estas subsidiem… a Trienal.
Fazer programas muito estruturados, com muitas medidas, tem o seu interesse, mas um alcance limitado. Já ajudei a fazer um – e depois vi como, na hora da verdade, foi esquecido. Bastou haver alguém a acenar com uns brilhos, a tocar uma flauta, e seguiram todos atrás. Promessas, leva-as o vento. Eu demiti-me.
Princípios claros e escolhas concretas, precisam-se. Não acredito em programas que prometem o sol na eira e a chuva no nabal.